Máquina de Gelo: útil ou inútil?
Máquinas de Gelo: útil ou inútil?
Uma das últimas categorias que abrimos foram de Máquinas de Gelo. Um grupo de produtos que, sinceramente, grande parte do pessoal da Harpyja não via necessidade ou real utilidade em ter. Depois de experienciar algumas de capacidades e formas de produção de gelo diferentes, a opinião começou a mudar. Cada um trouxe seus próprios pontos de vista sobre qual máquina de gelo tinha julgado mais adequada para si, como todo consumidor faz.
Sendo assim, para te ajudar a escolher e/ou enxergar valor nestes produtos, decidimos trazer tópicos para se pensar e responder algumas perguntas comuns. Garanto que no final, vai ser capaz de opinar com muito mais certeza.
Por que não fazer no freezer do refrigerador?
Essa deve ser a primeira pergunta que você se faz ao pensar em máquinas de gelo. A resposta é até simples: uma questão de demanda e praticidade. Claro, suas forminhas podem ter te satisfeito até agora, mas elas dificilmente serão suficientes para uma festa ou aqueles almoços de família em dias quentes que duram horas.
As máquinas de gelo conseguem produzir numa velocidade muito maior que o seu freezer. Mesmo as menores entregam o equivalente a uma forma de gelo a cada 30 minutos. Modelos residenciais maiores atingem essa marca a cada 15 ou até 7 minutos, e as industriais nem se fala…
Além da velocidade, desaparece o trabalho de encher as formas ou armazenar o gelo separadamente para ter boas quantidades de reserva. A máquina armazena o gelo, e com a produção constante mantém-se um ambiente frio no interior. Apesar do gelo ficar aglutinado, muitas drenam toda a água que derrete, e assim não se formam aqueles blocos únicos de gelo que aparecem no refrigerador. O gelo permanece solto e pode ser pego facilmente com a pá que vem inclusa.
Gelos diferentes
Cada máquina de gelo produz de uma forma diferente, e assim os gelos formados possuem particularidades interessantes. No fim do dia todos são gelo, mas é sempre melhor casar as suas demandas com o que a máquina é capaz de entregar.
Cubo
Este é o mais conhecido, produzido nas forminhas em casa. Aqui também estamos considerando vários tipos de gelo maciço no mesmo conjunto. Os pontos mais importantes deste tipo de gelo são que ele derrete mais devagar, e preenche bastante espaço. Dessa forma muitos bares, restaurantes e lugares centrados em bebida o utilizam: ocupando mais espaço no copo, proporcionam mais lucro.
Outro motivo é que ao derreter mais devagar, mantém sua forma, o que pode ser pensado no senso estético. Cubos de gelo grande são usados em bebidas, às vezes em formato esférico ou de diamante. Quando bem arranjados, elevam a aparência do drink.
Uma variação é o gelo “tophat” (cartola em inglês). Um gelo gourmet, pensado de forma a ser maciço, límpido e atribuir personalidade à bebida e/ou estabelecimento. Incorpora os principais pontos dos gelos maciços: ocuparem espaço no copo e manterem-se intactos, garantindo estética.
Máquinas de gelo que produzem em forma de cubos são a EOS Ice Compact Inox e a Philco PMG20, por exemplo. Estas criam uma cascata de água por cima de uma forma resfriada, o gelo vai se formando e acumulando nas cavidades.
Tubo
Este tipo de gelo é produzido pela maioria das máquinas residenciais menores (embora também por muitas industriais). Neste grupo entram a CK-GO que avaliamos, mas também modelos da Philco, EOS e várias outras. Seu formato cilíndrico com um furo no meio causa uma queda na resistência do gelo, e o torna mais mastigável que os cubos e esferas.
Essa característica que falta nos cubos e esferas maciças de gelo surge diretamente de sua produção. Um reservatório de água é elevado e entra em contato com pinos resfriados, a partir desse ponto a água congela em torno destes pinos, gerando o formato curioso.
Apenas considere que, com a espessura alta o suficiente, vai ser tão difícil de quebrar quanto um cubo comum. Essa variação muitas vezes pode ser programada na própria máquina.
Cubelet
Se está procurando um formato mastigável, porém, a melhor opção é o tipo cubelet. Este gelo é formado comprimindo pequenos flocos num só cilindro poroso. O resultado praticamente se desfaz quando morde.
Foi pensado para usar em drinks, os poros absorvem a bebida e não a deixam aguada. Também é muito usada em batidas nas coqueteleiras para conferir uma textura mais espessa, ou se misturar com facilidade ao usar o liquidificador. Avaliamos a EOS Ice Drink Cristal, que produz esse tipo de gelo.
Em alguns lugares, principalmente nos EUA, é chamado de gelo “Sonic”. Rede de restaurantes drive-in que ganhou destaque pelo uso do gelo. Apesar de muito útil, a formação com os flocos não o deixa tão estético como cubos.
Escama
Este gelo é o que resfria bebidas e alimentos mais rapidamente. A capacidade se dá pelo seu formato mais plano, parecendo vidro quebrado, que aumenta a superfície de contato com os alimentos.
Aparece bastante nos copos de refrigerantes em fast food, para venda em postos de gasolina e dentro de coolers para preservação de alimentos. Suas aplicações também incluem transporte de vacinas, construção civil, pesca e outros. Por conta disso, a maioria das máquinas de gelo escama são de nível industrial, com capacidade de produzir algumas toneladas por dia.
A produção é feita com a água passando através de tubos metálicos resfriados, congelando-se em camadas finas. Após certo tempo, essas camadas congeladas são liberadas e se despedaçam na queda.
Granular ou Flocos
O gelo granular possui aplicações e propriedades muito parecidas com a do escama. Seus benefícios principais são a maleabilidade e o tempo longo de derretimento, mas jogue-o na água e ele desaparece. Trabalhar com pequenos cristais torna possível moldar o gelo de acordo com sua necessidade, e o tempo longo para derreter permite que ele seja usado de maneira expositiva. Por isso aparece tanto em peixarias e buffets.
Seu processo de fabricação é parecido com o gelo escama, sendo raspado das paredes de cilindros refrigerados. Não costuma aparecer tanto em residências, sendo mais comum em aplicações comerciais.
Quanto gelo é suficiente?
Tendo escolhido seu tipo de gelo, é necessário pensar sobre sua demanda. As máquinas de gelo são anunciadas em kg por dia (com as industriais podendo chegar a toneladas). Essa medida não é absoluta, muda de acordo com a temperatura da água e do ambiente.
Baixas temperaturas resultam numa maior produção, aumentando a eficiência assim como refrigeradores, purificadores, condicionadores de ar e afins. Apesar disso, o valor que os produtos declaram como sua produção se mostraram bem próximos do valor medido em temperaturas amenas (média de 24°C), ao menos os que tivemos a chance de avaliar.
Para descobrir quantas pessoas a máquina atende, considerar apenas a produção diária não é suficiente. Se for armazenar o gelo produzido na máquina, é preciso levar em conta o tamanho do reservatório de gelo.
Algumas máquinas oferecem pouco espaço para seu reservatório de gelo. Embora tenham boa capacidade de produção, ao encher o reservatório param automaticamente e assim seu estoque fica pequeno.
Desenvolvemos uma aproximação na Harpyja, que leva em conta a capacidade de produção da máquina, seu reservatório de gelo cheio e um período de 4 horas para consumo. A planilha está disponível aqui. É possível trocar as informações pelas da máquina que está pensando em comprar para descobrir o número máximo de pessoas que serão atendidas nessas 4 horas. Como padrão foi considerado que cada pessoa consumirá uma média de 4 cubos de gelo por hora (já que algumas pessoas não vão querer bebidas com gelo), mas isso pode ser alterado de acordo com sua necessidade.
Esse é o tipo de informação que sempre adicionamos nas nossas avaliações, então se estiver de olho em alguma máquina de gelo que passou por nossos testes, vale conferir.
Gasta muita energia e água?
Esse é um questionamento mais que válido. Dependendo da sua situação pode ser que a máquina fique ligada por 24 horas. Para isso, vamos separar em energia elétrica e água.
Energia
A tecnologia principal utilizada nas máquinas de gelo é o compressor, que vem com uma potência estável e relativamente baixa associada a ele. Mesmo a EMG35, com 35 kg de produção diária, mantém o consumo de 240 Wh por hora. Claro, mantendo o dia todo funcionando, pode chegar a valores altos. Mas comparando ao tamanho da produção, é eficiente.
Na verdade as máquinas maiores apresentaram maior eficiência. A menor máquina de gelo que avaliamos até agora foi a CK-GO. Com 7 kg/dia de produção e 127 Wh de consumo por hora. Metade do consumo, mas cinco vezes menos produção.
Não avaliamos máquinas industriais, mas analisando os dados fornecidos online, máquinas de 150 kg/dia podem consumir por volta de 1230 Wh por hora. É um valor expressivo, mas ainda assim eficiente dado a produção.
Para calcular o acréscimo em reais na sua conta de luz por horas de uso, multiplique o consumo por hora pelo valor do quilowatt na sua região.
Água
Como regra simples, a quantidade de gelo produzida em kg é a mesma quantidade em litros. Ou seja, 16 kg de gelo consome 16 litros de água. Na prática há uma leve variação ao considerar o reservatório que também é cheio e pode ser esvaziado pessoalmente sem ter sido usado, mas com produção constante não é algo a se considerar.
Se não estiver contente com essa resposta, ainda existem algumas formas de se aproveitar 100% da água consumida. A primeira é usar uma máquina com recirculação de água. Assim, se o gelo no interior derreter, essa quantia é reaproveitada.
Outra opção eficaz é utilizar uma entrada de água diretamente da rede, como uma torneira. A opção não está disponível para todos os modelos, mas os que permitem costumam incluir um filtro de água e enviam o líquido diretamente para a produção. Efetivamente eliminando o desperdício, toda a água consumida vira gelo.
Posso levar para onde quiser?
As máquinas de gelo ainda ocupam certo espaço e são mais pesadas do que parecem. Enquanto vazias, os menores modelos residenciais podem pesar 6 quilogramas. As maiores então chegam a 19 quilogramas ou passam disso.
Isso não impede que elas não sejam realocadas, de forma alguma. Apenas tenha alguns pontos em mente: distância da tomada e de um ponto de água. Essa última é essencial principalmente se for utilizar uma entrada de água diretamente da rede.
Se preferir encher o reservatório manualmente, a liberdade é um pouco maior se o reservatório puder ser separado do resto do corpo. Não é o caso dos modelos menores, que precisam ser enchidos diretamente no corpo.
Um terceiro ponto a se considerar é ser gentil ao carregar e manter o produto parado algum tempo após o transporte. O compressor lida com gases, e a turbulência do transporte pode deixá-los desequilibrados. Espere no mínimo 10 minutos para ligar novamente.
O gás do compressor é inflamável?
Alguns gases utilizados são. Digo isso não para causar alarde, apenas para informar. A quantidade de gás utilizada em cada máquina é pequena (nas residenciais ao menos). Mesmo que haja algum vazamento (o que é improvável), ele deve se dissipar sem que você sequer perceba.
Vale a pena?
É o que pergunto a você! Se chegou até aqui e não viu um propósito para ter a sua máquina de gelo. Bom, elas não são para qualquer um. Assim como mixers, cooktops de indução, climatizadores... podem não agradar a todos. Por outro lado, não tem como negar que seriam uma adição interessante.
No âmbito residencial, é algo útil para se ter numa área gourmet, de churrasqueira ou casa de praia. Se tem um estabelecimento comercial: bar, restaurante, distribuidora de bebidas, buffet ou casas de festa; pode se tornar uma ferramenta que valoriza seus drinks e abre espaço para exposição de alimentos. Ou ainda, seria um benefício singular para marcar sua estadia na pousada, hotel ou Airbnb.
Máquina de gelo é uma categoria que demorou certo tempo para me convencer, mas pensando a respeito não é difícil imaginar como ela agregaria a um espaço ou evento.